quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Em 1996, pouco mais de 260 mil portugueses estavam inscritos em federações desportivas. Doze anos depois, o número quase duplicou e atinge agora os 492 mil. Este é um dos dados mais significativos das estatísticas que o Instituto do Desporto de Portugal (IDP) apresentará hoje de manhã no Jamor e a que o PÚBLICO teve acesso.
Esta quase duplicação, que significa que actualmente 4,63 por cento dos portugueses praticam formalmente desporto, é a boa notícia. A má é que Portugal continua longe do topo da Europa. Um relatório elaborado para a Presidência francesa da União Europeia (UE) no final do ano passado, a cuja versão preliminar o PÚBLICO também teve acesso, demonstra que apenas cinco países da UE (ainda a 25) tinham taxas de praticantes inferiores à portuguesa em 2005: Lituânia (2,7 por cento), Hungria (2,2), Bulgária (1,1), Roménia (1) e Polónia (0,3).Nesse estudo, os países são distribuídos por grupos e Portugal é integrado no segundo, o dos países com taxas baixas mas em bom crescimento, como é também o caso da Estónia (8,2 por cento), Bulgária e Lituânia.O primeiro grupo é o dos países com taxas elevadas de praticantes e estabilidade nos números, como a Dinamarca (55 por cento), Áustria (40,3), Alemanha (33), Holanda (28,5), Suécia (26,6), Luxemburgo (25,8), França (25,2) e República Checa (24,4). Refira-se, por outro lado, que países como a Itália (6,4) e a Espanha (7,3) estão ligeiramente melhores do que Portugal.Ouvido pelo PÚBLICO, Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, reconhece que há "um grande potencial de crescimento" em Portugal, sublinhando a importância de captar as crianças e jovens. "O problema de Portugal é a falta de hábitos desportivos da população. E esses hábitos criam-se nas primeiras idades", defende Laurentino Dias, argumentando que esse problema se resolve com medidas como a introdução da prática desportiva nas escolas, como aconteceu "no "primeiro ciclo do ensino básico, em que 333 mil crianças tiveram actividade física desportiva".O governante espera que Portugal venha a colher, a "médio e longo prazo", frutos de medidas como esta, de forma a poder aproximar-se do topo da Europa.Laurentino Dias, por outro lado, defende que há uma "recuperação face à média europeia", graças ao crescimento da última década, e apresenta algumas explicações. "A primeira razão é que, em 12 anos, aumentou muito o número de instalações desportivas disponíveis. Em quatro anos, abrimos 545.000 m2 de área desportiva e fez-se muito mais ao longo desses últimos 12. A segunda razão é que há um conjunto de novas modalidades, como surf, triatlo, orientação, canoagem e remo, que cresceram muito e há 12 anos quase não tinham expressão."O estudo que será hoje apresentado demonstra ainda que a prática desportiva está ainda muito concentrada no género masculino. Dos 491.564 atletas federados em 2008, 77 por cento eram homens e apenas 23 mulheres. O número de atletas femininas, no entanto, tem crescido mais depressa. Em 1996, as mulheres representavam apenas 15 por cento dos praticantes.Futebol dominaOutro ponto relevante nas estatísticas recolhidas pelo IDP é o facto de haver uma quebra da percentagem de praticantes nas idades de juniores (17, 18 anos), o que é explicado por Laurentino Dias como uma consequência do facto de os clubes "diminuírem o número de equipas nos juniores e seniores".Todos estes dados vão ser editados em livro em Setembro, incluindo também as estatísticas dos praticantes por modalidades. Os dados provisórios de 2008 - relativos a todas as federações com utilidade pública desportiva, incluindo instituições que habitualmente não são associadas a desporto de alta competição, como a federação de campismo e montanhismo ou a federação de columbofilia - mostram que o futebol lidera de forma destacada. É a única modalidade que supera os 100 mil praticantes, com 141.958 atletas inscritos (incluindo o futsal). A segunda maior é o voleibol e a terceira o campismo e montanhismo, federação que junta actividades campistas com desportos como alpinismo e escalada.A quantidade, no entanto, não é sinónimo de qualidade. Várias das modalidades em que Portugal tem assegurado o apuramento olímpico estão fora do top-20, como é o caso dos trampolins (3679 atletas federados), ténis de mesa (3142), taekwondo (3074), vela (2887), canoagem (2223), remo (1633), badminton (1301), triatlo (972), esgrima (670) e tiro com arco (294).